quarta-feira, 28 de maio de 2008

Theo. Em verdade, Theodoro. Sempre me soou um tanto patético, alegórico, como uma piada involuntária, ter um nome cujo único intento foi o apelido. “Theodoro, para chamar de Theo”. Coisa dos anos 80, época em que calças roxas, camisas amarelo-splaft e viagem às Bahamas davam o tom no que tange aos anseios pequeno-burgueses – ou de qualquer um que assistisse o Fantástico, um programa da época, com jeitão da época, mas que passa até hoje, um deslocamento na percepção tempo/espaço.

Amarelo splaft é aquele amarelo-amarelo, sabe? Aquele que estoura nos seus olhos, que serve de referência num show lotado.

29 anos, há quatro aqui. Vendo livros novos e lidos, e tudo soa bege, numa confusão entre as paredes e o amarelado das páginas. Não aceito o adjetivo sebo.
Meus pais moram na Holanda, meu pai é holandês. Não, não moram em Amsterdã, mas numa provínciazinha de casas térreas e telhados triangulares, em Gueldres (ou Güéldria ou Gelderland). Foram quando eu tinha 15, e não os acompanhei porque seria muito difícil conseguir emprego sem um diploma universitário. Prometi que iria assim que terminasse os estudos em Filosofia, e eles encararam com uma naturalidade quase ofensiva a idéia de deixar aquele teenager tímido e passivo tomar conta de sua vida. Nunca terminei a faculdade.
Ah, e tenho um meio-irmão, Rory, gordo, inglês, peludo e gay. Mora nos EUA, é filho do primeiro casamento do meu pai. É 10 anos mais velho que eu e me liga com periodicidade imprevisível, normalmente depois de ter dado a bunda para algum desconhecido, tanto meu quanto dele.
Logo, a freqüência de suas ligações é proporcional à de trepadas, o que me mantém informado sobre sua vida sexual, mesmo que contra minha vontade.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lady água morna.

Fazia aquele tipo típico, tão sexual quanto um porta-copos, que você não comeria nem que a benevolência lhe fosse salvaguarda da morte. Entrou e estirou o nariz com lábios pressionados para cima, naquele semblante de cheiro-de-geladeira, de nojinho, de gente com a qual você grita e ela diz “tá”. Incapaz de reagir com um grito retórico que indique haver alguém vivo debaixo do blusão estufado. Um tipo que cheira a sabonete Palmolive e por suposto tem água – morna – nas veias.

“Eu queria livros da Anne Rice.”

Puta merda. ANNE RICE.

“Ah, sim, acho que não tem, mas vou checar”.

“Ahm...”

Saca aquele “ahm” débil, como quem diz “eu posso morrer de dor se não tiver porque eu sou triste e incompreendida e ninguém se dispõe a me dar uns tapas e se eu eventualmente por algum acidente cósmico vir um pau na minha frente aos pedidos de ‘chupa’ eu pensarei seriamente em pegar um guardanapo para segurar”? É, por aí.

Eu precisava salvar aquele ser.

Não, não vou comê-la, tá maluco, eu prezo pelo curriculum do meu pinto, e não tô fazendo vestibular para Madre Tereza.

Fui até o estoque. Cry to Heaven, ou Chore para o Céu, até onde me contaram rola um sexo nesse livro. Mas ela precisa de mais.

Arranquei o conteúdo e enxertei ali O Amante de Lady Chatterley, versão sem cortes.

“Oi, tenho esse aqui, Chore para...”

“Quanto custa??”

Falou numa ansiedade de tremelicar pálpebras, quase comovente, quase como uma vida acontecendo.

Levou.

Na última página, sempre deixo o aviso: “A obra que você acabou de ler se chama O Amante de Lady Chatterley, de D.H Lawrence. Espero que minha ousadia possa ter lhe trazido um bem. Volte até nossa loja, e lhe farei um desconto especial em livros do mesmo autor".